Vandana Shiva era a voz que se queria ouvir no último dia 30 de Outubro em Serralves, que comemora os 100 anos do seu parque, mas o auditório encheu-se para ouvir dois painéis de oradores que, antes da sua chegada, foram fazendo o aquecimento para o tema que está na ordem do dia. É tempo de escutar a natureza! Uma nova linha de pensamento é exigida e o desafio é mais complexo do que as palavras que qualquer orador pudesse pronunciar. O vice-presidente da Câmara do Porto, Filipe Araújo, foi apontando nas suas intervenções o desafio que temos pela frente, mas também as evoluções positivas que têm existido na cidade do Porto, demonstrando o seu compromisso com objetivos ambiciosos e concretos. As cidades, como o próprio Filipe Araújo refere, são atores essenciais nos processos de transição para a sustentabilidade, pela sua capacidade de intervenção e capacidade de influência na comunidade e economia local.

As intervenções de Vandana Shiva, trazem consigo sobretudo uma capacidade de comunicar de forma simples o que é complexo, de transmitir conhecimento, sem deixar ninguém de fora, de partilha humilde do saber, experiência e ativismo, o que para mim a torna profundamente inspiradora. O seu ativismo, inclui todos, não despreza ninguém, porque todos somos parte do maravilhoso fenómeno que é a vida. A solução passa por escutarmos a natureza e nós, para Vandana Shiva, também somos natureza.

A professora Helena Freitas trouxe o conceito de árvore da vida no seu discurso. Cada árvore do parque de Serralves é uma manifestação de vida, nenhum ser vivo sobrevive isolado, ninguém está desconectado. O sistema é interdependente e nós fazemos parte dele. Ouvir Helena Freitas, foi perceber que um dos mais belos parques urbanos da Europa é cuidado com todo o carinho.

No painel onde tive a honra de estar presente, em representação da Noocity, tive a meu lado Marta Vasconcelos que numa excelente apresentação falou-nos de proteína, do excesso de proteína, de como a podemos substituir por proteína vegetal, não demonizando nem rejeitando o consumo da animal. A Manuela Pintado com enorme conhecimento, trouxe a problemática do desperdício alimentar, que na grande maioria dos casos reflete toda a irracionalidade do comportamento humano. A Ondina Afonso num estilo sempre elegante, confrontada pela plateia que exige cada vez mais das grandes superfícies, foi mostrando o caminho que se tem feito e empenho existente da grande distribuição. Apesar de ser evidente que existe muito a fazer e que a transição de estruturas tão grandes como a grande distribuição, exige-se uma difícil mas fundamental negociação, entre consumidores, produtores, industria e distribuição, que nem sempre querem a mesma coisa. Num auditório lotado estava a representação dos consumidores que ousaram confrontar os paineis com perguntas nem sempre fáceis de responder, mas fundamentais para este diálogo, dando a oportunidade de esclarecer o público. Neste diálogo o tempo é sempre limitado e seria de grande utilidade que o diálogo se estende-se para além de eventos como este que decorreu na Fundação de Serralves.

Por fim, num painel de três ilustres mulheres, restou-me a mim apresentar o caso da Noocity e estender o tapete para a receção de Vandana Shiva. Apesar da honra e prazer de ter feito parte deste evento, devendo agradecer pessoalmente à Mariana Cruz, à Anabela Silva e à Marta Tavares o convite e apoio, foi sobretudo um privilégio ouvir, como a simplicidade de Vandana Shiva inspira.