Nasci e cresci no Porto, cidade que amo profundamente, no seio de uma família grande, sem ligações à agricultura. O Aniki Bóbó do Olveira fez-me sonhar com a miúda bonita e o Sousa Veloso mostrou-me a Vida Rural. Aos 14 anos não sabia o que queria fazer e seguir… Estranhamente cultivava vasos de hortícolas em casa, cuidava de pássaros caídos do ninho, trazia cães para casa, enfim, um caso de preocupação parental! Até que um psicólogo conclui: “Um tipo como tu deve ir para uma escola especial, uma escola agrícola. Há uma em Santo Tirso.”Fui, vi e apaixonei-me. Foi tão bom, aprendi tanto, fiz os melhores amigos, cresci como não podia ter crescido em casa. Daí parti para Vila Real, para a UTAD. Nela fui aluno de vários cursos, estudei de perto o mundo rural, participei em inúmeras tertúlias, fiz diversas viagens e senti nos ossos as quatro estações do ano. Todas essas aprendizagens embrenharam-se definitivamente na agricultura. As plantas aromáticas perseguiram-me sempre, quis conhecê-las melhor e acabei como encarregado dos Jardins de Serralves. Fui pago durante seis vibrantes anos para gerir 18 hectares de uma das mais fantásticas coleções botânicas do país. Naveguei rio abaixo e instalei-me nos aposentos de Pedro e Inês de Castro, na Quinta do Paço, em Vila Nova de Gaia. Durante vinte e um anos fiz das ervas o pão na mesa, das aromáticas fizeram-se milhares de cantinhos espalhados pelo país, centenas de novos rurais perseguiram o perfume cujo rastilho foi por mim ateado. Acredito convictamente que passarei os anos que me restam a plantar árvores…dragoeiros, carvalhos e negrilhos, entre muitas outras sofisticadas tecnologias ancestrais, da semente à floresta comungada. E a vida continua, de pés assentes na terra e a consciência de que futuro será verde ou morrer a tentar. Dizem que abraço como poucos…há quem nunca esqueça o meu abraço…gosto de poder abraçar as pessoas e a vida!